Carver Briggs é um jovem no último ano do colegial em uma prestigiada escola para jovens artistas. Ele forma um quarteto com os amigos Mars, Eli e Blake. Até que um dia os três morrem em um terrível acidente de carro. O pai de Mars é um juiz importante, e quando descobre que a última mensagem lida no celular de Mars veio de Carver, ele instaura um processo criminal contra o jovem, acusando-o de ser responsável pela morte dos outros.
Agora além de sofrer com a culpa por ter mandado a mensagem e de lidar com a perda das três pessoas mais importantes na vida dele, ele também está sendo interrogado pela polícia e por jornalistas. A única parente dos garotos que o exonera de qualquer culpa é a avó de Blake, que pede que Carver passe um dia com ela fazendo as coisas favoritas do seu neto como se fosse um ritual de despedida.
Carver também começa a sofrer ataques de pânico, tem dificuldade de falar com os pais sobre seus problemas e não quer ir para a terapia por achar que aí vai ganhar ‘atestado de louco’ – mas quando todos na escola o tratam mal, já que a irmã gêmea de Eli espalhou para todo mundo que ele é um assassino, ele começa a reconsiderar a história da terapia.
Como se não bastasse, a única amiga que ele tem é a namorada de Eli. E quando ele começa a gostar dela, a culpa que ele sente não ajuda em nada.
A coisa de que mais gostei nesse livro foi a tradução. A história é cheia de flashbacks com os quatro garotos fazendo bosta e dando risada, e não é fácil traduzir linguagem de adolescente de forma natural. Eu imagino que o autor seja bom em escrever diálogos ‘jovens’, mas a tradução poderia ter facilmente estragado tudo. De qualquer forma, a interação entre os adolescentes é muito natural, engraçada e tocante, e a amizade dos quatro é o que segura o livro.
Por outro lado, por mais que me doa dizer isso, o politicamente correto me irritou. (SPOILERS) Mars é negro e aí o pai dele faz um discurso sobre como os negros são sempre criminalizados não importa o que façam. Blake é gay e tem uma cena em que Carver decide contar isso para a avó dele, e ela diz que não fazia ideia mas que o ama de qualquer forma e que sente muito que sua religião talvez o tivesse impedido de contar a ela como ele se sentia. A namoradinha é feminista e passa o livro dando broncas no Carver por comentários machistas e racistas (ela é oriental e adotada) – mas tudo na brincadeira, ela não fica brava de verdade porque ‘ele não fez por mal’. O terapeuta que Carver finalmente vai é gay, casado com um homem, tem filhos e chora ao lembrar a morte de um antigo namorado espancado por agressores homofóbicos.
Por mais que eu concorde com todas essas ideias, me incomodou a forma como os personagens coadjuvantes viram objeto de cenas que me parecem desenhadas para mostrar ao público alvo da obra – “jovens adultos” – o que é certo e errado. Eu não tenho nada contra literatura edificante, mas esse livro ficou forçado. Ele passa o tempo todo reclamando da condescendência dos adultos (pois o livro é narrado por Carver), usa palavras difíceis pois ele quer ser um escritor famoso um dia e adora metáforas que aparentemente todos acham maravilhosas mas eu achei sem graça. “Ouvindo sua voz no telefone, eu podia sentir as baratas andando por sua pele e sentir o cheiro dos dentes sujos de nicotina” ou algo assim não me parece algo especialmente inteligente – apenas pretensioso.
No fim das contas o livro fala sobre perda, luto e superação, e tem momentos bacanas. Mas a maior parte dele é só pretensioso, artificialmente moralista e inverossímil. No entanto, eu li até o final – o que é mais do que se pode dizer de muito livro por aí.
Então se você curte dramas adolescentes, esse é um dos que eu até acho que você pode gostar.
Dias de Despedida – Goodbye Days (2017) de Jeff Zentner
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