O Doom de Dezembro (Day 2)

O segundo dia do Under The Doom mudou-se para a beira Tejo e para a sala “Lisboa ao Vivo”. Uma opção que acabou por se revelar acertada (ainda que estranha para alguns dos presentes, que por vezes esquecem que a marcação das salas obedece a vários critérios, muitas vezes fora do controlo dos promotores).

Devido a outros compromissos profissionais, perdemos completamente a actuação dos Inhuman. A mítica banda algarvia está de volta ao activo e a curiosidade para presencial esta nova encarnação ainda não foi satisfeita nesta data…

De facto já os Cellar Darling terminavam o seu set quando conseguimos entrar na sala. Escassos minutos que não nos permitiram apreciar o “neo-folk rock “ dos suíços, que têm na ex- Eluveitie Anna Murphy e no seu estranho “hurdy-gurdy” (adornado com a bandeira portuguesa) o imediato ponto de destaque.

De volta a sonoridades mais “Doom” e à segunda apresentação dos Italianos The Foreshadowing. Fosse da maior dimensão da sala, de algum cansaço ou de facto o set ter variado pouco da noite anterior (ainda que a adição de “Days of Nothing”, do homónimo álbum de estreia tenha sido um ponto), o concerto acabou por ser mais “morno” que no RCA.

As honras de “banda da noite” recaíram nos Green Carnation. Vamos tentar esquecer por momentos o “pedigree” do sexteto Norueguês (não teríamos espaço suficiente para elaborar o C.V: de cada um dos músicos), que foram os sucessores (e precursores) espirituais dos In The Woods e herdeiros (e pioneiros) de todo um movimento que se afastou de um “tradicionalismo” Black Metal para explorarem outras paisagens musicais (cunhando o termo entretanto em desuso “Avant-garde”: o que “sobra“ é a constatação de que as composições da banda fazem (ainda) mais sentido hoje, após anos afastados dos palcos e das gravações, do que provavelmente fizeram nos curtos sete anos da “primeira vida” da banda. Mais ainda quando a banda escolhe a data de lisboa para estrear ao vivo a sua primeira composição em 12 anos (“The Attic”). Há um sentido, bem orientado e dirigido, em toda a esquizofrenia que as composições vão revelando, à medida que os temas da escassa discografia se vão sucedendo. Ainda que os primeiros álbuns tenham ficado fora do alinhamento (o segundo por razões mais óbvias que o primeiro), tivemos direito a ”Rain”, “Crushed into Dust” e “Myron & Cole” (do álbum de 2003 “A Blessing in Disguise”) sem que a clivagem com os temas de “The Quiet Offspring” fosse tão notória quanto em disco. O fim, com “When I was You” (de “The Quiet Offspring”) pareceu-nos chegar demasiado rápido.

Ainda que os verdadeiros cabeças de cartaz fossem o interesse principal para a maioria dos presentes, o regresso da “Diva” Liv Kristine aos palcos foi recebido de braços abertos pelo público português. Como a própria confessou, a data em Lisboa foi o seu primeiro concerto no espaço de um ano e talvez por isso, resultou numa atmosfera mais intimista (e saudosista q.b.) entre os músicos e o público. Longe da popularidade que gozou outrora (primeiro com os geniais Theatre of Tragedy e depois com os populares Leave’s Eyes, sem contar com a produção em nome próprio, mais vocacionada para o “rock moderno”), a norueguesa, ainda que tímida em palco, continua em grande forma vocal. Acompanhada por uma banda composta por músicos cuja tenra idade não comprometeu a entrega técnica, Liv dividiu o seu set entre os momentos mais “rock” da sua carreira a solo e alguns clássicos de T.O.T. (“” e “Siren”), terminando (nas palavras da própria) com a sua música favorita e porta de entrada nas sonoridades mais pesadas: a cover de Black Sabbath, “Changes”.

E por falar em popularidade: os Lacuna Coil são actualmente um dos nomes mais sonantes (e até comercialmente bem sucedidos) do “female-fronted Metal”. Em abono da verdade, a banda é bem mais profissional e tecnicamente competente do que nos seus primeiros anos, mas em contrapartida perdeu muito do interesse musical que a estreia “In a Reverie” anunciava. Considerações sobre mercado, popularidade e “modas” à parte, os italianos deram o concerto que todos estavam à espera: visualmente e musicalmente sempre perfeitos, com uma escolha de setlist mais “upbeat”. Lugar para os habituais momentos de agradecimento (ao público e aos Moonspell pela ajuda em início de carreira), palavras de encorajamento (a antecederem “Nothing Stands in our Way”) ou os pedidos de participação vocal do público (na cover de Depeche Mode, a óbvia “Enjoy the Silence”). Palhaços semi-aterradores, bonecos de neve e árvores de natal insufláveis e até máquinas de neve completam o quadro. Quase no fim, a obrigatória visita ao passado com “Heaven’s a Lie”, numa interpretação instrumentalmente mais “chunga-chunga” que o original mas em linha com a direcção que a banda tomou nos últimos anos.

Uma nota menos positiva sobre a segunda noite do Under The Doom: o excesso de zelo por parte dos seguranças: é compreensível que o público “pagante” não veja com bons olhos a “posição privilegiada” dos fotógrafos acreditados acampados por vezes durante todo um set no “photo-pit”, mas limitar o intervalo fotográfico a duas músicas, é no mínimo frustrante. Talvez se a quantidade de telemóveis no ar fosse menor, o dito “Photo-pit” não seria necessário…

Galeria Completa: AQUI
Texto e Fotografias: Sethlam Waltheer

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