Fiquei três dias sem internet (valeu, Net!) e nesse tempo tudo o que podia fazer era assistir os filmes que tinha por aqui, o que pode ser uma benção também. Foi nessa pegada que assisti “Lilo & Stitch” e também o filme aqui presente. “Das Leben der Anderen” é conhecido como “The Lives of Others” em inglês e “A Vida dos Outros” em português, o que corresponde a tradução exata do título em alemão (olha meu alemão intermediário servindo para alguma coisa, sociedade!).
O ano é 1984 (não creio que a data seja mera coincidência, e sim uma clara referência ao livro de Orwell) e estamos na Alemanha Oriental, aquela cujo sistema político era socialista e mantinha mais do que apenas um muro simbólico de separação com a Alemanha capitalista. Gerd Wiesler (Ulrich Mühe, fenomenal) é um agente da polícia secreta Stasi, responsável por inquerir suspeitos de traição e instruir outros funcionários. Wiesler tem uma carreira aparentemente sólida, com a confiança de seus superiores repousando em seus ombros da maneira mais possível que possa em um contexto em que alguém pode passar de inquisidor a suspeito em poucos segundos.
Georg Dreyman (Sebastian Koch) é um poeta acima de suspeitas que namora a atriz Christa-Maria (Martina Gedeck). Entretanto, Wiesler não acredita nesse negócio de “acima de qualquer suspeita” e sugere investigações para seu superior, que após uma conversa com um figurão do governo acaba acatando a ideia. Wiesler desde o começo parece ter um interesse especial em Dreyman, de modo que pede para ser ele a conduzir as escutas e relatórios sobre o dramaturgo. Sem que saiba, está também se envolvendo em um jogo maior, pois o tal figurão do governo está tendo um caso com Christa-Maria. Wiesler vai ganhando cada vez mais simpatia por Dreyman, considerando-o um amigo, e assim passa a realizar intervenções em sua vida que à princípio são pequenas, mas cada vez vão aumentando em tamanho. Chega em certo ponto da história em que a bola de neve cresceu a tal ponto que Wiesler esconder os feitos de Dreyman é também se defender contra qualquer acusação de traição. E vou parar por aqui porque se não vou soltar todos os spoilers…
Para mim o melhor do filme é mesmo como conduz um personagem que tinha tudo para que você o odiasse (coisa que você começa fazendo já nos primeiros 10 minutos) para um caminho de redenção, que mostra que ali dentro também bate um coração humano solitário. Como diz Dreyman frente a uma peça musical tocada durante o filme, alguém que se sensibilizasse por aquela música não poderia ser no fundo uma má pessoa. E assim é o personagem de Wiesler, que acaba tocado pela vida do escritor a quem passa a acompanhar.
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