Já li — Seda

PORQUE LI?

Estava a precisar de um romance para fazer uma pausa no “Amor Líquido” de Zygmut Bauman, que exigiu muito de mim. Aproveitei uma ida a casa dos meus pais, em Portimão, para ler o livro que ofereci à minha mãe em Agosto deste ano, no fim de umas longas férias de Verão.

 O QUE ACHEI?

“Passou a fronteira perto de Metz, atravessou o reino de Württemberg e a Baviera, entrou na Áustria, chegou a Viena e a Budapeste de comboio para depois continuar até Kiev. Percorreu a cavalo dois mil quilómetros de estepe russa, transpôs os Urales, entrou na Sibéria, viajou durante quarenta dias até alcançar o lago Baical, ao qual os habitantes daquele lugar chamavam: mar. Desceu pelo curso do rio Amur, costeando a fronteira chinesa até ao oceano e, quando chegou ao oceano, parou no porto de Sabirk durante onze dias, até um navio de contrabandistas holandeses o levar ao cabo Teraya, na costa oeste do Japão. A pé, percorrendo estradas secundárias, através das províncias de Ishikawa, Toyama, Niigata, entrou na província de Fukushima e chegou à cidade de Shirakawa.” (Pág. 24)

Para além das mais óbvias ou socialmente convencionadas — um namoro firme, uma união de facto, um casamento — que fronteiras definem uma história de amor? Um amor platónico, vivido secreta e solitariamente, será uma história de amor? Um amor declarado, mas não correspondido é uma história de amor? Um amor declarado e correspondido, mas nunca consumado, é uma história de amor?

“Seda”, de Alessandro Baricco, é um livro sobre o amor. O amor a uma arte milenar que é, também, um negócio próspero. O amor a dois tempos, entre dois países e dois continentes, vivido por um homem de forma tão natural e delicada como a seda que ele mesmo produz.

Hervé Joucour é um personagem fascinante, um homem sensível e introspetivo, que escapa por pouco a uma carreira militar no decorrer do Segundo Império Francês, mas que — a julgar pela abnegação com que se dedica à missão para salvar toda uma indústria, pelos riscos que está disposto a correr nas longas viagens que empreende e pela discrição da sua dimensão emocional ­— teria dado um bom soldado. Assim como foi um bom negociante, um bom amigo e, apesar de tudo, um bom marido.

Quanto ao excerto que puderam ler acima, entranhou-se-me como uma ideia fixa. Leio-o e releio-o à laia de mantra e há de chegar o dia em que saberei este percurso de cor e serei capaz de replicá-lo fisicamente. Houve, até, quem já me sugerisse substituir o cavalo por uma mota. Acho que está definido mais um percurso para uma das grandes viagens com que passei a sonhar. Só me resta descobrir onde fica exatamente Sabrik (não encontro quaisquer referências a este local na costa oriental russa…) e mentalizar-me que doze mil quilómetros por terra (catorze mil se partir do Porto) não são nada para quem já fez uma volta ao mundo.

“Seda” é um pequeno grande livro que nos eleva a alma e que recomendarei sempre!

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