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Lunário (1999)

by Al Berto(Favorite Author)
4.31 of 5 Votes: 5
languge
English
genre
publisher
Assírio & Alvim
review 1: "Um dia, quando a minha memória de homem fugitivoalcançar a idade de um deserto, debruçar-me-ei num poço etentarei beber o tempo esquecido do teu rosto. Estarei lucidamentemorto, eu sei, e os meus olhos já não prenderão a adolescência,nem as imagens que dela se soltaram. E a minha cegueira surgirácercada por frondosas árvores e pássaros, mas não os verei mais.O rosto, o teu rosto, já não conseguirá atrair-me para o fundocircular do poço.O tempo de sedução terminou. Terás de me tocar, terás detrocar o tacto dos olhos pelo tacto dos dedos. Apenas persistirá ojogo, a cumplicidade, e uma ténue vibração do corpo que seperdeu contra o meu corpo.Por isso me ergo daqui e atravesso estas imagens coladas àsparedes, e ao atravessá-las descubro que estou perd... moreido, econdenado também a perder-te.Levanto-me do fundo de mim mesmo e abandono a casa, osbens que herdei, e vou pela memória daqueles vestígios que se mecravaram no interior das pálpebras, mas não semeio nem recolhonada. Apenas persigo os passos que outrora abandonei pelascidades onde te procurei, antes mesmo de saber que existias.E perco-me, perco-me onde a sombra dos corpos é umsudário de melancolia sobre o mar. Mas, ainda aqui estou, quasevivo, atento ao movimento perene de tuas mãos sobre o meucorpo. E sem bússola, nómada até aos ossos, sigo pela noite ondeaportei, e não reconheço a casa que me destinaram para morrer.(...)As cidades seduziram-me com imagens de abismossubterrâneos, vertigens de esperma que se vende, compra e troca. E sonharcom essas cidades de medo e fascínio é ainda uma maneira desaciar parte do desejo que me assola. Mas já só existo no que demim se cristalizou nas palavras, e é tão pouco...De imobilidade em imobilidade a vida avançou, avançoupor ininteligíveis iluminações. Hoje, neste fim de século,desloco-me sem saber como dentro das fotografias que revestem as paredesdeste quarto. E é-me indiferente estar aqui. Sempre que posso fujo,fujo no olhar que cegou o meu. Porque eu fujo e vou com tudoaquilo que me chama e toca. Vou com o azul dos olhos domarçano ali da esquina, vou com as folhas das árvores no outono daminha rua, vou com a noite à procura da manhã sobre o rio. Voupelos arranha-céus acima e contemplo dos altos terraços o sonoesbranquiçado dos mortos. Vou com o teu corpo que me desgasta amemória doutros corpos e me transforma em esquecimento... vou,vou sempre, pela humidade dos cardos presos em tua boca.Abro depois as mãos, e não há mar nas suas linhas, nembarcos que venham descansar na ponta dos dedos, e a linha docoração - repara - é uma calosidade. E por uma noite daimensa cegueira, quando já morar definitivamente em ti,abandonar-te-ei... à hora dos répteis recolherem o calor nas fissuras dotempo.Intacto, irei à procura do merecido repouso."
review 2: Gostava de poder sentir o que «Beno» sente e não sente, o que viveu e recordou e o que lhe faltou viver e recordar. Queria mudar-me para o corpo dele, para o pensar dele. Beber um copo e ouvir Velvet Undeground no «Lura». Conhecer «Alba... Silko... Zohía... Kid... Alaíno... Nému» e desfrutar sozinho, com eles, ao deus-dará a noita e as cidades. Amores e desamores, memórias e perdas delas, encontros e desencontros. Não é que eu tenha uma vida má, sem sabor, sem experiências, sem nada que me faça gostar dela. less
Reviews (see all)
haithem
"Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge".
alexis
Poeticamente magnífico. Ou magnificamente poético. Como só Al Berto sabe.
Empressah
só posso dizer... whoa...
sripooja
LINDO! LINDO! LINDO!
trm
masterpiece
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