Quando me propus a ler “Mulher Sem Nome – Dilemas e Alternativas da esposa de Pastor” estava me propondo a ler algo diferente das minhas leituras comuns, confesso que olho com muito cuidado sobre os livros escritos para mulheres e principalmente quando para mulheres cristãs.
Por vezes no ambiente cristão é cobrado das mulheres uma certa excelência, virtuosidade em níveis que nem sempre são possíveis e nem sempre pautados biblicamente. Quando me deparo com o texto contido no livro de Provérbios, capítulo 31, verso 10: “Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis.” reflito sobre essa mulher que é descrita no restante do capítulo, sobre como inserir esse “ser mulher” de maneira bíblica e dialogar com uma realidade diversa, questionadora, pregadora de sua liberdade e etc…
Garanhuns, 2015
Ontem, o livro
Lançado em 1995 escrito por Nancy Gonçalves Dusilek, esposa de um pastor da igreja Batista. Confesso que esse livro me chamou a atenção em alguns aspectos pertinentes, principalmente observando que este livro foi escrito por volta de 20 anos atrás, e o mundo mudou muito diante disso. A forma como nos comunicamos, a forma como a mulher se posiciona, por exemplo. Hoje, a fala da mulher se encontra mais incisiva, com mais espaço para a defesa, a pluralização da informação sobre os feminismos, os avanços na área de trabalho a luta sobre direitos e escolhas que dizem respeito à mulher.
Tendo os pressupostos supracitados como o olhar de mundo para a leitura deste livro, queria chamar a atenção de vocês para o título “Mulher Sem Nome”, no meio eclesiástico geralmente é chamado atenção para as esposas de pastores e sobre as suas atitudes e como elas são observadas por estarem tão próximas do líder espiritual. Porém, a Nancy traz um aspecto nem tão belo sobre isso, o fato que a identidade dessa mulher fica escondida a ponto de perder seu nome, e se tornar a “a esposa de …” e não o seu próprio nome.
” Existe um adágio popular muito usado hoje, que diz: “Atrás de um grande homem existe uma grande mulher”. Não gosto desse “atrás”; prefiro “ao lado de”. “Atrás” dá ideia de sombra, e eu não sou sombra de ninguém. A sombra pode dar ideia de algo escorregadio, que nunca alcança nada, e esse não é o papel da esposa. Dá também a ideia de medo, fato também que, a meu ver, não tem a ver com a nossa função – assustar o marido e aos demais. Dá ainda a ideia de manipular, o que decididamente, não é a função de esposa de nenhuma muito menos a de pastor.
” Ao lado de” da ideia de parceria, a ideia de que faço parte do conjunto, mas tenho o meu espaço individual, que espero seja respeitado, assim como respeito o do meu marido.” Página 22
Ainda não sou casada, ainda não sou esposa de pastor. Mas, a vida às vezes me prega umas peças reflexivas e me vem novamente a mulher do livro de Provérbios. A vida em Cristo nos leva a deixar nossas cobranças diante dos homens e descansar diante do que Deus exige de nós, a caminhada com Ele é mais fácil. Só que temos que lidar com a vida nos aspectos sociais também, e nos ambientes eclesiásticos vão cobrar a excelência e um caráter ‘não-falho’.
” Não conheço outra pessoa na igreja que receba mais cobranças do que a esposa de pastor. O pastor pode ter defeitos (e os tem, com certeza), mas o povo compreende, releva, entende, ajuda. Mas a esposa dele… Ela é uma pessoa observada o tempo todo, e as opiniões sobre ela são as mais diversas: […]
coloque todas as cobranças na mão de Deus. Deixe que ele mesmo tome conta de todas elas, e continue servindo-o com integridade e alegria de coração.” Páginas 39,42
O que me leva a refletir sobre como essas cobranças ocorrem por outras mulheres, e como não somos piedosas umas com as outras, como as nossas relações são falhas.
Hoje, os dilemas
De uns tempos para cá, há uma maior ênfase em algumas igrejas sobre ‘feminilidade’ (e talvez até por isso, também estou aqui expressando pensamentos). Devemos ter alegria em ser mulher e não pesar sobre nossos ombros a responsabilidade de ser impecável, infalível de atos. Deus não nos deixou a responsabilidade de sermos “sombras de alguém” e vivermos escondidas, nas espreitas, sem poder falar abertamente e com a tarefa de resolver a vida de todos, esquecendo de nós mesmas. Ele não nos fez como resto, ou metade de alguém. Ele nos fez inteiras, completas, virtuosas como aquela inicialmente citada e isso não nos faz menor do que ninguém.
Nem sempre vamos nos encaixar nos padrões requeridos, nem sempre seremos a mulher que a igreja quer, que a sua empresa precisa, que sua faculdade espera, seus pais e familiares… Vamos falhar, não por ser mulher mas por ser humana. E essas coisas são boas, lembrar que podemos errar e que não devemos cobrar tanto das pessoas, sejam estas “esposas de pastor” ou aquelas senhorinhas do banco da igreja que ninguém vê.
Nossos dilemas, são nossos diálogos, são as propostas de diminuir as cargas, são os reconhecimentos além das falhas, são as permissões de sermos tratadas como iguais, de sermos chamadas pelo nome, de sermos conhecidas por nossa identidade, por termos prazer em ser mulher, em ser filha, em ser gente (também).
Mulher Sem Nome
Nancy Gonçalves Dusilek
Editora Vida
1995
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