Duas breves notas a propósito de sofrimento e de escândalo
»»»»» Breves notas estas, que servem para estabelecer-esclarecer dois aspectos não referidos em dois textos anteriores insertos neste sítio. Textos esses que foram A mulher de quem se fala e o irresolúvel patético, seguido de A vida enquanto orvalho e a escandalosa velhice, focando um e outro diferentes aspectos do filme A mulher de quem se fala (Kenji Mizoguchi, 1954). E são duas estas breves notas:
»»»»» 1ª) No final, quando as duas protagonistas, mãe e filha, se reconciliam e conversam sobre as desilusões amorosas, tendo vivido ambas uma desilusão com o mesmo homem (o jovem médico do sindicato das gueixas), a mãe, Madame da casa de gueixas, considera, em modo de balanço final, que o sofrimento é comum aos humanos no curso da vida. E decerto Schopenhauer assinaria por baixo este postulado: o sofrimento enquanto uma constante da vida humana.
»»»»» 2ª) Em conversa com o seu pretendente-de-longa-data, que persiste em propor-lhe casamento, a Madame, empresária da casa de gueixas, e em comentário lateral à “comédia” Nô que satirizava uma “velha” apaixonada por um jovem, confessa, com algo de surpresa no rosto, que nunca se considerara uma mulher “escandalosa” (termo usado na “comédia”) pelo facto de estar apaixonada, e perspectivar casar-se com o jovem médico do sindicato das gueixas. O escândalo afigura-se aqui um modo-de-ver alheio, exterior, decorrente de um duplo preconceito: sexista e etário.
António Sá
[07.05.2017/08.05.2017]
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