O começo de 2018, como qualquer começo de ano, traz diversos questionamentos sobre quais deverão ser os rumos da economia, seja por motivos pessoais ou profissionais, todos nós queremos saber onde investir nosso dinheiro ou se devemos nos preparar para uma nova grande crise.
Fazer previsões em economia é sempre uma tarefa complicada e, na maioria das vezes, extremamente ingrata, pois dada a quantidade infinita de fatores que podem ter um peso surpreendente nos rumos da economia, quase sempre acabamos errando, mesmo os melhores de nós.
Entretanto, vejo como um excelente ponto de partida para começar os trabalhos desse blog, trazer um pouco do que os colegas economistas e outros agentes do mercado enxergam a respeito dos rumos da economia brasileira e global nesse 2018 que já começou atribulado, mas cheio de expectativas.
Em uma série de cinco posts, começando com este, vou escrever um pouco a respeito do que tem sido esperado para a economia brasileira, em um ano de eleições nunca tão acirradas, reforma da previdência (ou vai ou racha!), recuperação econômica e desafios como a questão fiscal, taxa de desemprego e o balanço entre juros e inflação.
As opiniões externas expostas aqui serão devidamente creditadas às suas fontes, quando houver necessidade, uma vez que essas são o pilar de sustentação de parte das opiniões do autor a respeito do cenário econômico, uma vez que acredito serem essas fontes as mais confiáveis, com maior precisão histórica de acerto em suas previsões e pouco (quase nenhum) viés político-partidário.
O Cenário Global
Como é bem difundido hoje, vivemos em um mundo cada vez mais integrado, e isso não é menos verdade para a economia. Portanto, é interessante conhecermos quais os principais atores e quais papéis eles desempenharão no desenrolar do ano.
EUA, Trump e o Federal Reserve
Como não pode deixar de ser, o primeiro grande personagem dessa grande ópera é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Após um primeiro ano de mandato com algumas grandes dificuldades, especialmente com relação à sua popularidade e relação com o Congresso, o governo do Republicano começa a ganhar tração, com uma grande reforma tributária em curso, essa pode ser dita como a primeira grande vitória de Trump no ringue das decisões de política econômica.
A redução de tributos, em especial para pessoas jurídicas, deve reduzir a arrecadação pública dos EUA em cerca de US$ 1 trilhão, forçando um ajuste fiscal nas contas do governo americano, sob risco de um expressivo aumento da dívida pública. Os resultados dessa política podem se provar, ao mesmo tempo, catastróficos ou extremamente benéficos.
Sob a ótica da melhoria da competitividade, aumento da renda disponível para investimentos e consumo e mesmo do efeito psicológico de uma redução tributária, que pode mover as receitas de impostos de um ponto à direita da curva de Laffer para um ponto mais ótimo, especialmente no que toca aos impostos corporativos, como bem indicou o economista Jeffrey Dorfman, da Universidade da Georgia em seu artigo de 08 de janeiro de 2017 para a Forbes, e que parece ter sido ouvido pela equipe econômica de Trump, que fez de sua maior bandeira e propaganda a redução de 35% para 21% nos impostos para lucros de pessoas jurídicas.
(Doug Mills / Copyright 2017 The New York Times)
Entretanto, como o próprio Dorfman indica, a curva de Laffer para os impostos de renda nos Estados Unidos tem sido muito pouco responsiva a incentivos fiscais, como nos governos Bush e Reagan, com a arrecadação variando entre 15% e 20% do PIB. Dessa forma, existe a possibilidade de que esse corte de tributos não traga impactos positivos na arrecadação, quando muito, ou traga um forte impacto negativo, o que poderia ocasionar em paralisação de serviços públicos, aumentar a necessidade de endividamento para financiamento das atividades e deteriorar a situação fiscal do governo americano.
A opinião do autor é de que, para os Estados Unidos a reforma deve trazer benefícios, especialmente no médio prazo, com uma redução da intervenção do Estado na economia e um grande boom de investimentos que devem se concretizar no horizonte de 2 a 5 anos, uma vez que muitos desses investimentos demandam a construção de ativos físicos para efetivamente trazerem retorno.
No curto prazo é possível que um desequilíbrio fiscal traga a necessidade de atrair capital para financiar o déficit gerado pelo brusco corte na arrecadação. Com isso, é possível que a reforma tributária dos EUA traga impactos fortes sobre o câmbio, que deve reagir com uma alta do Dólar frente a outras moedas, especialmente as emergentes, em caso de migração expressiva de capitais destes países para os títulos do Tesouro americano.
Também é possível um forte impacto nas bolsas de valores mundo a fora, uma vez que com a maior atratividade do mercado americano, muitas empresas devem aumentar seus investimentos no país, levando investidores a aumentar suas apostas nessas companhias. Além disso, com a redução de tributos, é de se esperar que a distribuição de dividendos aumente seus valores no país e, com isso, também a atratividade dos investimentos nas empresas negociadas nas bolsas dos Estados Unidos.
Outro grande papel na economia global será desempenhado pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve. Com um novo chairman, Jerome Powell, prestes a assumir o comando da instituição em fevereiro próximo, as expectativas a respeito dos rumos da política monetária da maior economia do mundo ficam cada vez maiores.
Com uma taxa de juros básica atualmente em 1,5%, uma taxa de inflação em 2,20% acumulado em 12 meses em dezembro de 2017 e crescimento estimado em 2,3% para 2018, segundo dados da OCDE e do FMI, a expectativa é de que ocorram pelo menos três aumentos de 25 pontos-base na taxa de juros ao longo do ano, mas discordâncias internas entre os membros do Comite Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês) podem reduzir esse número a 2 aumentos, ou até mesmo aumentar para quatro elevações ao longo do ano, levando a taxa de juros básica da economia americana a 2,5%, maior taxa desde março de 2008.
O FED iniciou em outubro passado a redução do seu balanço patrimonial, à época em US$ 4,2 trilhões, levando para a casa de US$ 1 trilhão ao longo dos próximos anos. Dessa forma, o caminho para um aperto da política monetária e aumento generalizado das taxas de juros dos títulos do tesouro americano fica mais fácil, o que é uma longa reinvindicação do Partido Republicano, como explicou Aaron Hankin, do portal Investopedia, em seu artigo de 20 de setembro de 2017.
Os impactos globais de um aumento mais acentuado do que o previsto pelo mercado podem intensificar os possíveis efeitos da reforma tributária de Trump, atraindo mais capital para o país e fortalecendo o Dólar frente a outras moedas. Além disso, especialmente no caso dos países emergentes, a alta de juros acima do esperado na economia americana pode deslocar os interesses dos investidores para um mercado menos exposto ao risco, especialmente com os cenários políticos desses países tão conturbados, como no caso de Brasil e México.
Entretanto, uma surpreendente manutenção da taxa de juros básica em um nível mais baixo por parte do FED pode ocasionar no movimento inverso, melhorando as perspectivas, especialmente nas bolsas de valores, e trazendo entrada de valores expressivos de capital nos mercados emergentes, podendo favorecer uma retomada do crescimento em países como Rússia e Brasil, que possuem taxas de juro nominais elevadas, oferecendo bons retornos aos investidores.
Como podemos observar, o peso das decisões de política nos Estados Unidos tem um impacto crucial nos rumos da economia global, ainda que muito de sua influência hoje seja dividida com o outro grande Player global, a China. Não podemos mais afirmar que “para onde os EUA forem, o mundo vai”, mas certamente é crucial que observemos de perto o giro da roda econômica da maior economia do mundo.
Na próxima parte da série de posts sobre o cenário econômico global, falaremos um pouco sobre como os outros dois maiores atores globais, China e União Europeia, irão impactar a economia do mundo ao longo de 2018.
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